“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O Pequeno Tortuga


O pequeno Tortuga seguia aproado a oeste, retornando à Pelotas. O sol já havia desaparecido na linha do horizonte, o vento soprava mais forte e a temperatura caía lentamente enquanto eu vestia um anorak. Mão firme no leme e olhar atento que alternava entre o horizonte,velas enfunadas, bússola e gps. Luz acesa na cabine de onde vinha um aroma especial do café que o amigo Rovani passava, trazendo conforto e aconchego. Meu afilhado Tiago dormia tranquilo na cama de proa e sua mãe, minha prima Tatiane,um pouco apreensiva com sua primeira travessia noturna me acompanhava no convés. Pouco tempo depois a escuridão já havia tomado conta exibindo um belíssimo céu estrelado que nos convidava à contemplação. O Rovani deixou a cabine, foi até a proa e sentou junto ao púlpito para vigiar o horizonte. Em seguida ele gritou: "Paliteiro à frente!".. liguei o farol de mão e varri o horizonte revelando muitos paus fixados por pescadores. Um deles passou como um vulto à bombordo. Desviei dos demais e seguimos rumo ao canal onde navegaríamos em águas mais profundas e livres de obstáculos com exceção das boias cegas. Após os pequenos sustos ,eu e o Rovani conversávamos sobre a possibilidade de futuramente navegarmos no oceano. Sonhávamos acordados enquanto a Tatiane escutava nossos planos e devaneios interrompendo-nos em dado momento, assustada com nossa determinação em executá-los ela disparou: "eu to no meio de dois loucos". Sorriso no rosto e a certeza de que estamos no caminho certo.

Cmte. Anderson Chollet. 

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