“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Just Sailing

Dia 19-11 , sábado a noite eu preparava o Ipanema para mais uma velejada, desta vez com o amigo Braga. Decidi colocar garrafas Pet no interior do barco, entre o casco e o convés para garantir uma boa reserva de flutuabilidade em caso de ruptura do casco e alagamento, evitando que a embarcação afunde. Coloquei 20 garrafas Pet de 3,3 litros cada através das tampas de inspeção, acomodando 10 de cada lado do barco e fixando elas com fita adesiva silver tape. Durante o dia eu fui pressurizando as garrafas , colocando elas abertas no freezer e fechando antes de retirá-las para a temperatura ambiente. No centro do barco ja haviam alguns espaguetes flutuadores de polietileno colocados anteriormente com o objetivo de deixar mais firme o convés, assim deformando menos com o nosso peso. Não sei o quanto eficiente é esse sistema , mas vou pesquisar melhor sobre o assunto e caso necessário colocarei mais garrafas para garantir que o barco fique insubmergível.


Mais tarde com a ajuda do Rovani, coloquei o Ipanema em cima do carro para no domingo levá-lo até a prowind, na praia do Laranjal,  nosso ponto de partida. No sábado o vento nordeste estava de moderado a forte , com rajadas chegando a 29 nós. A previsão era de que ele acalmaria um pouco no domingo.
 Domingo pela manhã , a previsão estava se confirmando e tudo indicava uma ótima velejada. Eu o Braga chegamos antes das 10h e começamos a montar o veleiro e preparar os equipamentos sem pressa , com bastante paciência. Em seguida o Rovani , minha prima Tatiane , afilhado Tiago e amigo Nino chegaram na praia para assistir nossa saída.


(Foto by Emerson Amaral - "Nino")

(Foto by Emerson Amaral- "Nino")




 Eu estava um pouco ansioso e até inseguro, provavelmente por ainda ter pouca experiência na arte de velejar e por ter intervalos de tempo relativamente grandes entre uma velejada e outra. Isso aliado a alguns comentários e questionamentos em tom de preocupação, como :" vais encarar esse vento?", de alguns amigos mais experientes, o que me deixava um tanto inquieto. Com tudo pronto, embarcamos e partimos perto do meio dia, com vento de través em direção à barra. Pouco tempo velejando, e aquela ansiedade e insegurança se foram embora deixando a velejada bem mais agradável e relaxante.





Rovani e família seguiram de carro pela beira da praia até a barra onde pararam para ver nossa entrada no canal São Gonçalo. Conversando com o Braga , me distrai e passei um pouco da entrada do canal , mas isso foi bom pois tivemos que orçar, cambando em seguida para retornar em direção ao canal , o que serviu de treinamento para sincronizarmos os movimentos e procedimentos durante as cambadas, manobra que teríamos que fazer o tempo todo retornando no contra-vento mais tarde. Fui de timoneiro e o Braga de proeiro e logo no início eu ja sabia que daria tudo certo em função da nossa paciência e respeito mútuo.
Entramos no canal São Gonçalo com vento variando de popa rasa a três quartos de popa e seguimos em uma velejada muito tranquila passando pela barra, entrada do arroio Pelotas, Veleiros Saldanha da Gama, UFpel Campus porto , Clube de Regatas Pelotense, Porto , Clube Náutico Gaúcho e até o Quadrado. 


 Veleiros Saldanha da Gama



 UFPel Campus Porto


Porto

No caminho passamos por algumas embarcações a motor e por um veleiro oceânico que vindo em nossa direção me deixou em dúvida sobre questões de direito de passagem, se ele estive exatamente no nosso caminho quem deveria manobrar para evitar a colisão. Mantive nosso rumo e passamos a uma distância segura um do outro. Prometi que mais tarde iria revisar essas questões em casa, que eu ja havia estudado a algum tempo , mas por não praticar havia esquecido. Seguimos rumo ao quadrado em uma velejada tranquila. Em alguns momentos eu ficava em pé , com a mão esquerda segurando a escota da vela mestra e a direita a extensão da cana do leme. Nos aproximando do quadrado e ponte Pelotas / Rio Grande vimos que a ponte férrea estava sendo levantada. Provavelmente viram nossa aproximação e pensaram que seguiríamos canal acima. Braga testando um radio VHF portátil que ele adquiriu recentemente , tentou contato com o administrador da ponte, mas sem resposta. Passamos próximo ao quadrado para ver se encontrávamos algum conhecido , após um Jibe tranquilo com vento de fraco a moderado, onde o Braga seguindo minha orientação controlou a passagem da retranca para o outro bordo, seguimos de través para o outro lado do canal , onde fizemos nossa parada para lanchar. Contente com o sucesso das manobras eu cumprimentei  e agradeci o Braga. Aportamos em uma pequena prainha, com areia fofa e vegetação na volta, onde estavam três pescadores fazendo manutenção no barco deles.







 Conversamos um pouco com eles , o Braga deu algumas dicas de manutenção , trocamos contato ( telefone) para combinar futuras remadas com um dos pescadores que tem gosto pela canoagem, relaxamos um pouco no local , reacomodamos os equipamentos na proa do Ipanema para deixar o convés livre de obstáculos para as cambadas no contra-vento e partimos rumo a Prowind, na Lagoa dos Patos novamente. Saímos no contra-vento como previsto e começamos a bordejar ( Velejar em Zig-Zag para avançar contra o vento). Alguns bordos rendiam mais , outros menos, algumas vezes eu perdia o ângulo de orça, fechando de mais, entrando na "zona morta" , perdendo um pouco de desempenho , mas recuperando em seguida arribando um pouco. Passamos por algumas lanchas que vinham no sentido contrário em alta velocidade , algumas desaceleravam antes de manobrar e outras simplesmente desviavam. Enquanto cruzávamos o canal em um dos bordos uma lancha grande que vinha muito rápido em nossa direção me chamou a atenção, eles mantinham o rumo sem diminuir a velocidade ou mostrar qualquer intenção de alterar o rumo, comentei com o Braga:" Ou não estão nos vendo , ou não sabem que embarcações a vela tem direito de passagem". Estavam realmente em alta velocidade , pedi que o braga utilizasse a buzina como alerta , ele buzinou mas foi inútil, estavam próximos e em rota de colisão. Avisei o Braga: "Preparar para cambar agora!!, cambando!!!", empurrei o leme em direção as velas, nos posicionamos no centro do barco enquanto a proa cruzava a linha vento e a retranca mudava de bordo , Braga soltou a escota da genoa, nos posicionamos novamente a barlavento , Braga caçou novamente a Genoa, aliviei um pouco mais a Mestra e nos afastamos dali em orça folgada. A Lancha passou próximo e muito rápido. O Braga buzinou novamente , fiz sinal negativando a atitude do comandante da lancha que acenou pensando provavelmente que estávamos apenas cumprimentando. Se mantivéssemos o rumo o abalroamento era certo. Seguimos nossa velejada sem maiores problemas e em um dos bordos o Braga me avisou que próximo a margem do canal podia ser raso de mais, ele acabou de falar , poucos segundos antes de eu manobrar , a bolina raspou no fundo nos desacelerando , pedi que ele elevasse um pouco ela rapidamente e tentei cambar , sem sucesso porque com a desaceleração ficamos sem velocidade suficiente para a manobra e o vento acabou nos empurrando para cima dos juncos, na margem. Decidimos descansar um pouco antes de tentar sair dali. Em seguida fui até a proa , abri uma das tampas de inspeção e peguei dois remos. Tiramos a bolina fora e remamos forte para nos afastar dos juncos, mas sem sucesso. Baixamos as velas e tentamos novamente. Após bastante esforço físico o máximo que conseguimos foi virar a popa para a linha do vento.Icei a vela mestra e utilizei a bolina para empurrar os juncos com bastante força , nos afastando menos de 1m da vegetação , que com a vela aberta foi suficiente para avançar um pouco e utilizar o leme para se afastar da margem. O Braga içou novamente a Genoa, seguimos um pouco com vento em popa, comecei a orçar , cambamos novamente e voltamos a velejar rumo a Lagoa dos Patos. Após algumas horas velejando, me senti um pouco cansado com o esforço para tirar o ipanema daquela situação. Tomei um suco de Pêssego, me reidratando, elevando o nível de glicose no sangue e me sentindo mais disposto.  Final de tarde , sol se pondo e nós nos aproximando da barra. Entramos aproximadamente 0,5 km na lagoa dos Patos , cambamos e seguimos orçando em direção ao trapiche do laranjal. Estava anoitecendo rápido , avisei o braga que tinha uma lanterna de longo alcance no pote estanque. De repente o cabo que mantém o leme abaixado rebentou e o leme levantou , ficando bastante pesado e difícil de manobrar. Segui forçando o leme para manter o rumo. Quando estávamos mais próximos do trapiche o Braga avistou uma rede de pesca. Pedi que ele levantasse a bolina , o leme ja estava levantado então passamos por cima da rede sem maiores problemas. Forcei o leme para rumar em direção a praia com vento de través e assim seguimos até aportar ao lado do trapiche. Velejamos em pouco mais de 6 horas, 44,7 km's. Esse velejo foi bastante prazeroso e serviu para aumentar nossa experiência prática e autoconfiança. 


(Foto By Braga)




Veja nosso GPS Tracking na imagem abaixo:



(Clique na imagem para ampliar)


 Na madrugada de terça-feira , lembrando de vários momentos da nossa velejada , comecei a descrever  com um certo tom poético, devido a inspiração da hora , alguns momentos segundo minha visão ,que mostram um pouco do prazer de velejar . Segue abaixo o pequeno texto:



Embarquei ansioso, prestes a timonear um veleiro com dúvidas de quem tem pouca experiência. Tentando esconder do meu amigo proeiro um pouco da minha insegurança, dava instruções e fazia manobras ­­­de forma mais lenta e tranqüila possível. Com o passar do tempo , a minha segurança foi aumentando , fui ficando mais confiante e as rajadas de vento mais fortes já não me assustavam mais. Eu as desejava, queria vento, mais "combustível" para avançar mais rápido, orçava e arribava conforme o adernamento e aliviava a escota da mestra nos momentos mais críticos vendo as velas quase tocarem na água. Observava o comportamento e expressão do meu amigo Braga, que como proeiro ja estava bem mais seguro do que na partida e demonstrava confiar no meu julgamento e habilidade em timonear o Ipanema nos levando de volta para a casa.
Planando, o pequeno veleiro saltava nas ondas e eu gritava entusiasmado. Olhava para a popa observando o trabalho do leme e o rastro deixado na água, em seguida observava a espuma a sotavento, seguia os olhos em direção à proa e após a barlavento sentindo o vento refrescante no rosto. Fechava brevemente os olhos, abdicando momentaneamente da visão, mas aumentando a sensibilidade ao toque dos pequenos respingos de água e até as enxurradas que adentravam o barco pela proa. A água corria pelo convés acompanhando o movimento do barco, passando pelos meus pés descalços e me fazendo sentir um leve arrepio frio em um início de noite na nossa bela lagoa dos patos.  Nesse momento um leve sorriso no meu rosto não era suficiente para revelar o quanto eu estava apreciando aquele velejo, após dominar o barco e senti-lo como uma extensão do meu corpo.

Anderson Chollet.  



Agradeço meu amigo Braga pela paciência, confiança e parceria nessa velejada. O Rovani, grande amigo que está sempre no apoio.Deixo aqui também meu agradecimento a minha prima Tatiane, afilhado Tiago e amigo Emerson que assistiram nossa saída. Ao pessoal da Prowind que facilitam o acesso aos esportes náuticos , seja no apoio, guarderia ou cursos. 


Grande abraço a todos , bons ventos e até a próxima. 

domingo, 13 de novembro de 2011

Canoagem & Rapel




No dia 15 de outubro fui convidado pelos amigos da Confraria do Rapel para fazer um rapel na ponte Pelotas / Rio Grande. Decidi remar um pouco no mesmo dia e chegar lá de caiaque. Cheguei as 15h no Quadrado ( zona portuária) , onde encontrei um carro parado com um caiaque Hunter vermelho em cima. Logo o dono do caiaque, Emerson, se aproximou e conversamos um pouco sobre canoagem e vela.



As 16h , pedi ao Emerson para fazer uma foto minha e parti remando em direção a ponte. 

Foi uma remada curta até a ponte , apenas 1 km. 
Ao me aproximar da ponte férrea, escuto o som do trem se aproximando. Decidi esperar ele para fazer um vídeo em baixo da ponte com ele passando. Câmera na mão, trem passando e eu filmando. A correnteza no canal era forte , me afastando da ponte. Eu pausava a gravação , remava um pouco e voltava a gravar, até ficar bem embaixo da ponte. 

Lembrando que ja houve um acidente nesta ponte, onde o trem carregado de pedras indo para Rio Grande foi autorizado a passar na ponte que estava em manutenção e acabou caindo no canal. 

 Ficar embaixo da ponte com o trem passando, o barulho do metal , a ponte estremecendo , ainda lembrando do acidente , causa uma sensação única . Confira o pequeno vídeo abaixo:




Passando a ponte férrea logo avistei o pessoal fazendo rapel


Me aproximei da ponte e fui recebido pelos amigos Elaine e Rubem que estavam fazendo a segurança do pessoal que descia de rapel. Desembarquei do caiaque e fui convidado pela Elaine a subir na ponte pela corda, não me atrevi a tentar ascensão em corda sem nunca ter feito. Eu disse que não tinha condições e segui caminhando em direção a estrada para subir na ponte. No caminho dois cães avançaram em mim , tentei lembrar de algumas dicas do amigo Cristiano Castro que gosta bastante de cães e entende muito sobre o comportamento deles, mas na hora não me ocorreu nada, simplesmente fiquei parado vendo eles me cercarem um de cada flanco. Quando chegaram bem perto não me morderam, só ficaram me cheirando e recuaram um pouco como quem dissesse "Pode ir magrão, ta limpo!", segui caminhando e subi na ponte. Na ponte me aproximando do pessoal olhei para baixo e ja bateu a adrenalina.

 Cumprimentei a turma, Francisco, Laura, Gustavo , Fabrício...e mais convidados ...a turma era grande. Fiquei conversando com o Gustavo enquanto colocava o equipamento. Utilizei a cadeirinha de escalada dele, as luvas da Laura e capacete da Raquel. Estava com colete flutuador, essa descida podia até ser na água. 

Enquanto o Gustavo me ajudava a colocar a cadeirinha , ele falava "bah não tenho certeza se essa fita passa de novo aqui e ali..." , em seguida eu retruco: "Gustavo eu quero descer lentamente não instantaneamente".  Seguimos conversando sobre possíveis acidentes. Assunto não muito interessante de se tratar pouco antes da prática da atividade em questão. Francisco me avisou que estava liberado para a descida. Me aproximei , pedi para ele revisar meu equipamento e para treinar rapidamente em cima da ponte. Ele puxou um pouco a corda e eu simulei a descida em cima da ponte mesmo. Tudo pronto , hora da descida. Passei para o outro lado da lateral da ponte, fiquei em posição e comecei a descida com instrução do Francisco. 

Meu segundo rapel, nesse momento rola uma tremida nas pernas. 


Esse é um dos momentos mais interessantes, quando ficamos com os pés embaixo da ponte e com a cabeça para baixo. 

Depois é só tranquilidade, curtir a descida controlando a velocidade..
Os mais experientes descem de cabeça para baixo. 


Após descer ofereci o caiaque para o pessoal experimentar. O Fabrício foi o primeiro. Tirei o saco estanque e outros equipamentos do caiaque, pensando em uma possível capotagem. Tirei meu colete flutuador e emprestei para ele. Dei algumas instruções e dicas. Ele remou tranquilamente e não houve capotagem. O próximo foi o Francisco que chegou cheio de energia , colocou o colete e foi logo embarcando no caiaque. Amarrei ele através do colete com 15 m de corda. Ele percebeu e comentou:" Pô , ninguém bota fé em mim". Expliquei que era por questão de segurança, que se ele virasse eu teria dificuldade de buscar ele. Ele remou próximo ao barranco por onde fui acompanhando com a corda. Remou bem , com segurança e tranquilidade. 

Fabrício
Francisco ( Foto por Gustavo Limons)







Bela arte no local...

Pessoal descendo de cabeça para baixo


Final de tarde , a hora de apreciar o por do sol que estava se aproximando. E nada melhor do que curtir ele da água. Me despedi do pessoal , arrumei meu equipamento e fui para a água. 












Momento de parar de remar, relaxar, respirar fundo e observar....um por do sol desses é um presente.


Me aproximando do quadrado resolvi continuar remando , pois havia remado apenas 2 km's. 
Segui em direção ao Campus porto da Ufpel. 

Navio São Sebastião






Clube de Natação e Regatas Pelotense 




Ufpel Campus Porto




Hora de utilizar a lanterna de cabeça



No retorno senti o caiaque "pesado", era a correnteza contra, as águas do canal descendo em direção a lagoa dos Patos. 



Continuei remando até o quadrado, local onde deixei o carro.
Cheguei no quadrado após as 20h. Tinha diminuído bastante a quantidade de pessoas por lá. Havia uma movimentação suspeita , alguns curiosos se aproximaram e me senti um pouco vulnerável a um assalto.
Desci do caiaque , guardei meu equipamento rapidamente, desativei os sistemas anti-furto do meu velho e guerreiro golzinho e retornei para a casa sem problemas após fazer um rapel em boa companhia e remar 5,5 km's. 

Deixo aqui meu agradecimento aos membros da Confraria do Rapel que estão sempre divulgando o esporte e convidando as pessoas para experimentá-lo.

Grande Abraço a todos.

Anderson Chollet.   














  














quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Velejada Pelotas x São Lourenço do Sul




Já faz alguns meses que não atualizo o Blog, por estar ocupado com outras funções vou deixando sempre para mais tarde e acabo não atualizando. Antes tarde do que nunca , não poderia deixar de postar sobre a velejada de 3 dias ( de 18 a 20 de setembro)  na lagoa dos Patos, de Pelotas a São Lourenço do Sul que fiz com o amigo Alberto Blank.
O plano inicial era de a turma ( Confraria Caiacar) navegar até São Lourenço do Sul em uma embarcação a motor levando os caiaques para depois retornar remando até Pelotas. Fui convidado para participar da remada mas por questões de preparo físico ( falta dele) achei melhor ir velejando. Convidei o Alberto , velejador experiente, para me acompanhar nessa curtida. Ele topou e em seguida começamos a nos organizar.
Fazia bastante tempo que eu não colocava meu pequeno veleiro, Hermes ( Ipanema 13) na água. Na velejada anterior o barco teve algumas quebras, algumas eu consertei em casa , mas não havia testado ainda. Convidei o Alberto para dar uma verificada no veleiro, ferragens e equipamentos em geral. Montamos o veleiro, o Alberto me deu algumas dicas de equipamentos, manutenção e mais tarde ele produziu em casa uma tala para a vela que eu havia perdido na ultima velejada e também um pau de spinnaker para armar as velas em "Asa de Pombo" no vento em popa.Além de me emprestar um moitão com mordedor  que usamos na escota da vela mestra. Alguns dias depois o amigo Braga me ajudou a raspar parte do convés que estava soltando o gel coat e colar EVA com cola de contato. O acabamento ficou bonito e ganhamos em conforto também.

(Na foto acima ainda faltava dar acabamento no EVA com estilete) 

Nos dias seguintes continuei fazendo a manutenção do barco com a ajuda do Emerson ( Nino) e Rovani. 










Se aproximando do dia 18, a previsão do tempo não era boa para os canoístas,tempo instável e com um vento sul que faria com que remassem todo tempo contra ele. A confraria caiacar acabou abortando a viagem, o que foi perfeitamente compreensível. Eu e o Alberto continuamos decididos a ir velejando mesmo com chuva e tempo instável. Na véspera da nossa saída eu estava um tanto debilitado, após dias com problemas gastrointestinais, mas estava decidido a ir mesmo assim. Na manhã de domingo, acordei com a pressão arterial baixa, bastante tonto e com náuseas , mal conseguia parar em pé. Liguei para o Alberto e falei da minha situação, e antes que eu fizesse a proposta de ele partir sozinho , ele falou que enviasse o veleiro pelo Rovani ( nosso apoio em terra ) que ele iria mesmo assim. Liguei para o Rovani e pedi que levasse o veleiro para o Alberto. Enquanto o Rovani não chegava na minha casa para pegar o veleiro eu tentava melhorar meu estado de saúde a qualquer custo. Poucos minutos depois ,minha pressão aumentou um pouco , aliviando a tontura e náusea. Quando o Rovani chegou entrei no carro e parti junto. Minha mãe vendo meu estado ficou preocupada, o que é compreensível , eu também ficaria no lugar dela.
Chegamos na prowind e começamos a montar o veleiro rapidamente. Momentos antes da partida lembrei que não tinha pego papel higiênico, foram semanas me organizando e esqueci de algo tão básico e útil ainda mais na minha situação , esquecer papel higiênico era quase como Amyr esquecer fogo quando estava indo para a Antártida. Entre risos e piadas do pessoal que estava na volta fui até a prowind e peguei um rolo emprestado. 








Fizemos algumas fotos , nos despedimos do pessoal e partimos. 



Saímos com vento em popa rumo à ponta da Ilha da Feitoria. Alberto timoneando e eu de proeiro. Armei a Asa de Pombo com o pau de spinnaker que o Alberto fez.

Alberto




Anderson




 O Gps, um Garmin 60Cx do Alberto, mostrava nosso rumo com precisão, além de outras informações importantes como posição atual, velocidade e tempo estimado de chegada. Foi meu primeiro contato com um Gps, fiquei impressionado com a precisão e tempo de resposta.  
Poucas horas velejando empopado , com o barco "dançando" nas ondas, balançando de um lado para outro , não demorou muito para que eu começasse a ficar enjoado. Primeira vez que fico enjoado na água ( "mal do mar"). Assumi uma posição mais confortável , tentando diminuir a náusea. Fechava os olhos e o enjoo ficava mais forte. Seguindo dica do Alberto olhava para o horizonte e aliviava um pouco. 



Quando faltava aproximadamente 1 hora para chegar na ilha, o tempo abriu , aparecendo o sol e deixando o cenário mais bonito. Chegamos na ilha próximo ao meio dia , não lembro exatamente o horário. Desembarcamos, tomei um Dramin B6 e um pouco de água mineral com gás. Em seguida lanchamos. Fizemos algumas fotos e voltamos a velejar. 

Ilha da Feitoria





Deixamos a ilha da feitoria e partimos rumo ao arroio Corrientes , local do nosso primeiro acampamento.









Meu enjoo passou , eu estava me sentindo mais disposto , aproveitando melhor a tranquila velejada. 

À tarde chegamos no arroio Corrientes. O cenário mudou ,  entramos velejando lentamente naquelas águas calmas, com uma bela vegetação ao redor e animais nos observando. Seguimos arroio a dentro à procura de um bom local para acampar. 










Escolhido o local , descarregamos o veleiro e montamos o acampamento.




Juntamos uns gravetos para fazer fogo , mas sem sucesso pois estavam bastante úmidos. 
Partimos para a espiriteira a álcool. Cozinhamos macarrão instantâneo ( miojo) , um pouco de queijo ralado por cima ,uns bifes de porco que sobraram do almoço e estava pronta a janta. O Alberto me apresentou as frutas secas que ele leva nas aventuras. Saborosas , nutritivas e de longo prazo de validade, uma ótima opção de alimento para expedições.    

Durante a noite choveu um pouco e mesmo com lona cobrindo as barracas a umidade passava para o interior. 
Ao amanhecer, o tempo continuava instável mas sem chuva. Tomamos café, fizemos algumas fotos e começamos a levantar acampamento sem pressa.  







Partimos rumo a lagoa dos Patos para seguir a velejada até o arroio Grande. A saída do arroio corrientes foi um pouco bordejando no contra-vento e um pouco remando nos trechos mais estreitos. Nesse trecho percebi que estávamos bem sincronizados nas tarefas atribuídas a cada um , timoneiro e proeiro. Velejar mesmo em um pequeno veleiro de 13 pés , também é um trabalho em equipe.

De volta a lagoa dos patos, continuamos em uma velejada tranquila,empopados, com uma média de 4,5 nós aproximadamente até o arroio grande.  
Entrando no arroio grande me surpreendi com a beleza do local, mesmo com o tempo fechado, com bastante nebulozidade,  imagino em um dia ensolarado de verão. O Alberto já conhecia o arroio Grande e apesar de nenhuma novidade, ele também apreciou bastante a beleza do local.  








Montamos o segundo acampamento embaixo dessa bela figueira.


Enquanto o Alberto montava a barraca e organizava as coisas dele , dei uma caminhada na região , apreciando as belezas naturais e a sensação de paz que o local proporciona. Quando retornei estava começando a chover. Montei rapidamente minha barraca e estendi minha lona sobre as 2 barracas deixando uma aba como abrigo da chuva.  





Acampamento montado , abrigados da chuva , tentamos fazer fogo mas sem sucesso como no primeiro acampamento. No outro lado do arroio tinha alguns pescadores acampados , parece que eles não conseguiram fazer uma fogueira também. Partimos novamente para a espiriteira a álcool, dessa vez o Alberto iniciou preparando pipoca, depois um arroz parboilizado com queijo ralado e atum para acompanhar, ainda comemos Bis e barras de cereais. É engraçado como alimentos simples ficam tão especiais em um acampamento longe de casa.


(Pequeno vídeo feito na noite de segunda-feira, no 2º acampamento)

Enquanto jantávamos avistei um quati atravessando a mata em direção ao arroio, avisei o Alberto que saiu atrás com a câmera em busca de um "bom clic". Avistamos ele retornando depois mas não foi possível fotografar.


Pouco tempo depois , na hora de dormir o Alberto passou mal , enjoou e decidiu por a janta para fora tentando melhorar mais rápido. Dei Xantinon B12 e Dramin B6 para ele que ficou bem em seguida.


 Choveu a noite toda e durante a madrugada o vento ficou mais forte. Quando montamos o acampamento, enquanto eu arrumava minha coisas , cometi um erro esquecendo um saco com roupas secas fora do abrigo da chuva. Algumas roupas que eu usaria para dormir molharam. Entrei no saco de dormir com poucas roupas finas e secas que sobraram e logo senti bastante frio. Peguei um cobertor térmico de emergência , me enrolei nele e entrei novamente no saco de dormir. Consegui me manter aquecido e voltei a dormir. O som da chuva era agradável , o do vento nem tanto. Estava dormindo e de repente escuto um estrondo alto e contínuo se aproximando da barraca , "tam ,.tam ..tam .. tammmmmm" e senti uma leve vibração no chão. Nem me atrevi a sair do conforto do saco de dormir , na chuva , para ver o que era, somente abri uma fresta na barraca e com a lanterna olhei para a barraca do Alberto para ver se estava tudo ok. O barulho foi assustador, mas em seguida relaxei de novo e voltei a dormir. Na manhã de terça , me levantei antes das 7h , ainda com chuva, estava bastante frio, vesti a roupa impermeável e saí da barraca. Ao sair da barraca avistei um galho de tamanho respeitável que havia despencado da bela e velha figueira a aproximadamente 2m de nossas barracas. Estava ali o motivo do forte estrondo. Fiquei pensando no acidente se tivesse caído sobre as barracas. Na próxima vez vou pensar bem se acampo embaixo de uma figueira novamente.
A Alberto levantou logo depois de mim e tomamos café da manhã. Um pacote de biscoitos de coco, por descuido meu, foi infestado por formigas. Preciso ser mais organizado e disciplinado, essas pequenas coisas não deveriam acontecer, mas tudo bem , é tudo aprendizado.
Levantamos acampamento ,fizemos algumas fotos e próximo das 9h partimos rumo a Pelotas. A partir desse momento não tenho mais fotos porque minha bateria descarregou. O Alberto seguiu fazendo registros que podem ser vistos no blog dele: http://albertoblank.blogspot.com/ , além de fotos ele editou esse vídeo: http://www.vimeo.com/30022800 .
Não tínhamos tempo para velejar até São Lourenço do Sul e depois retornar velejando à Pelotas, então começamos o retorno a partir do arroio grande que fica no município de turuçu . Voltamos à lagoa dos patos , saindo do nosso abrigo nas águas calmas do arroio grande e logo percebemos que nosso retorno não seria fácil , o vento Sul estava mais forte do que no dia anterior , e desta vez encaramos ele contra. Saímos "a todo pano", vela mestra e genoa sem rizar, começamos a velejar rápido e bastante adernado. Eu e o Alberto usando bastante a alça de escora e forçando no contra-peso para evitar a capotagem. O pequeno Hermes saltava de uma onda e mergulhava a proa na próxima , vindo bastante água por cima da gente e a bordo.  Em alguns momentos , adernados demais a água entrava pelo bordo oposto, à sotavento. O veleiro estava ficando alagado, instável e não conseguíamos tirá-la . Pedi que o Alberto aliviasse a escota da mestra , diminuindo a pressão e adernamento para tirar água. Esgotamos a água do barco , cambamos e seguimos em direção a praia. Apesar da situação um pouco perigosa , eu estava bastante empolgado com a adrenalina naquela velejada contra o vento. Na praia comentei com o Alberto que velejada daquele jeito eu só tinha visto em filmes. Ficamos um tempo na praia,  verificamos equipamentos e tentamos contato com o pessoal da prowind através de celular para saber sobre a previsão dos ventos, mas sem sucesso pois não havia sinal. Pensamos um pouco sobre o que fazer e o Alberto sugeriu que retornássemos e seguíssemos em direção a São Lourenço do Sul com vento em popa. Aceitei a proposta com certo entusiasmo , pois afinal o nosso destino inicial era São Lourenço mesmo. Rizamos a vela mestra e enrolamos um pouco a genoa , reduzindo consideravelmente a área velica. Embarcamos e seguimos rumo a São Lourenço do sul com vento em popa. Nossa velocidade era boa mesmo com velas rizadas, chegou a atingir picos de pouco mais de 8 nós. Chegamos em São Lourenço logo após as 14h. Entramos no canal de acesso a cidade ( arroio São Lourenço) com todo cuidado por causa das pedras e chegamos tranquilos no Iate Clube São Lourenço do Sul. Fiquei cuidando do veleiro e fiz umas fotos com a câmera do Alberto enquanto ele tratava de registrar nossa entrada na secretaria do clube. Fomos bem recebidos pelo funcionário Paulinho que muito prestativo arranjou um carrinho para carregar o Hermes , inclusive nos ajudando a leva-lo para dentro do clube. O Alberto deu um pouco de um licor especial em uma garrafa para o Paulinho como forma de agradecimento. Liguei para o Rovani que estava em Pelotas e perguntei se ele poderia nos buscar. Rovani estava tranquilo em casa fazendo churrasco. Eu disse que não tinha pressa e que ele viesse a hora que ficasse melhor. Nos acomodamos no clube , pegamos a espiriteira ,preparamos miojo para o Almoço e comemos chocolate. Enquanto faziamos bagunça no clube, com equipamentos e comida espalhados ao redor do barco ,um senhor bastante simpático se aproximou e perguntou se precisávamos de alguma coisa. Dissemos que estava tudo bem enquanto ele olhava para nossa pequena embarcação. Um pouco surpreso ele questionou: "Vocês vieram de Pelotas nesse pequeno barco?" , em seguida seguiu..."no meu tempo de guri eu fazia dessas...." , falou um pouco das aventuras dele ,relatou um pouco do que ocorreu na violenta enxurrada que a pouco tempo causou grandes danos e morte na cidade e também nos tranquilizou quanto a guarderia do barco e equipamentos. Infelizmente não recordo do nome dele. 
Após o almoço ,lavei a louça enquanto o Alberto arrumava os equipamentos. Em seguida chegou nosso apoio em terra, Rovani e o Nino com churrasco, refri e biscoitos. Como é bom ter amigos assim.
Rovani e nino nos ajudaram a tirar o mastro, emborcar o barco e guardar os equipamentos. Demos uma volta pelo clube olhando as outras embarcações , fizemos algumas fotos e partimos. Era cedo ainda, tinha bastante sol pela frente , decidimos fazer um tour pela cidade percorrendo as praias e volta do arroio. Ficamos impressionados, além da beleza da cidade tinha vários rastros de destruição deixados pela enxurrada. Depois do tour seguimos para Pelotas. 


Essa velejada foi bastante marcante para mim. Foram 33,7 milhas náuticas ( pouco mais de 60 km's) navegadas nos ultimos dias de inverno, onde aprendi bastante com o Alberto, mudei alguns conceitos e adquiri mais confiança na arte de velejar. Como em outras aventuras , saí de casa com a saúde abalada , melhorei no caminho e retornei para casa mais saudável fisico e mentalmente. Deixo aqui meu agradecimento ao Alberto Blank pela parceria, aos amigos Rovani, Nino , Braga, pessoal da prowind ( Léo , Larry , João ....) e funcionário do Iate clube São Lourenço do sul pelo apoio.  


Para mais imagens , informações, relato e detalhes da rota , visite o blog do Alberto:


http://albertoblank.blogspot.com/

Também não deixe de conferir o vídeo "Velejada dos 3 arroios" editado por ele:
http://www.vimeo.com/30022800

Forte abraço a todos , bons ventos e até a próxima!

Anderson Chollet.