“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

domingo, 20 de março de 2011

Expedição Arroio Pavão

No dia 28/02 , em uma janta na Prowind, combinamos uma remada no canal São Gonçalo com acampamento para o dia 06/03 com previsão de retorno no dia 8. O destino seria o Rio Piratini ou até onde fosse possível de acordo com as condições físicas da turma e do tempo.
                                        ( Turma reunida na prowind- 28/02/11 - Fonte:                      http://confrariacaiacar.blogspot.com)

Eu havia desistido da remada pois tinha outros planos para o feriadão de carnaval,  mas acontecimentos de última hora me fizeram mudar de idéia na noite anterior a expedição. Eu não havia me organizado, conversei com o Waldo no msn que me passou mais informações sobre a remada e apoiou minha saída mesmo que sozinho.  Eu precisava de novos equipamentos e suprimentos. Corri até o hipermercado BIG que fecharia nos próximos minutos e comprei barraca, garrafa térmica, mochila e alimentos.  Não consegui me organizar a tempo de sair junto com a turma. O Rovani me levou até o porto ( quadrado) onde encontrei  Joel e Vinícius esperando o Leandro ( Joel e Leandro partiram mais tarde em um caiaque oceânico duplo de alto desempenho) . A turma já havia saído a mais de 1h. Iniciei minha remada sozinho. Não tinha certeza se iria chegar devido as minhas condições físicas que não estavam boas e o psicológico abalado.



Após aproximadamente 1h de remada cheguei na Eclusa ( capão do leão), para minha sorte faltavam apenas alguns minutos para a Eclusa abrir os portões e eu poder fazer a Eclusagem. Já havia algumas embarcações esperando.  Na Eclusa encontrei o Dilmar em seu veleiro marreco 16. Dilmar foi quem montou meu veleiro (Ipanema 13) e me deu rápidas instruções de como velejá-lo pela primeira vez. Encontrei também o Francisco , irmão do Pedro que me vendeu o veleiro. Dilmar me ofereceu reboque após sair da Eclusa, agradeci , mas não aceitei. Meu ritmo no momento era bom , mas em seguida diminuí porque sabia que teria várias horas de remada pela frente.






(Parada para lanche rápido - poucos km's após a Eclusa)


   As 11h30min fui alcançado pelo Leandro e Joel. Fizemos um lanche juntos , em seguida voltamos a remar. Eles estavam em um caiaque bem mais rápido, logo sumiram no horizonte. 


 Horas mais tarde , me aproximando da Ilha da Brigadeira, vi movimento no chalé onde acampei com a turma em outra remada.  Fiquei contente, pois estava cansado e acamparia em seguida. Mas ao me aproximar vi que não era a turma. Um Senhor me recebeu e disse que viu a turma passar, subindo o canal.Poucos metros a frente encontrei o Francisco novamente, que apontou para a ilha onde estariam dois canoístas. Agradeci e segui remando. Ao chegar na ilha encontrei João Mauro e o Guilherme (Ligeiro), da equipe “Ferrari” ( brincadeira da turma devido à eles saírem em dupla e em caiaques oceânicos de alto desempenho). Eles estavam retornando de uma remada de 3 dias. Tinham parado para se alimentar e estavam sem água potável. Eles se hidratavam com água do canal. Mesmo fervendo não acho confiável. Dei um pouco de água gelada para os dois. Eles me deram algumas dicas de onde encontrar a turma, pois eles haviam mudado o destino da remada para o arroio pavão.  Segui minha remada até a entrada do pavão onde parei para conversar com pescadores. O arroio pavão tem uma bifurcação poucos km’s acima onde eu deveria seguir pela esquerda para não me perder. Nossa conversa foi interrompida por um enxame de abelhas. Saí rapidamente do local. Algumas curvas à frente e encontrei a turma de velejadores atracados em um local abrigado do vento. 


 Alguns minutos a mais de remada e encontrei a turma acampada.








 Hora do descanso. Tomei um banho no arroio, nadei um pouco e relaxei. Mais tarde montei minha barraca. A turma assou um churrasco, destaque para o Cristian que agilizou bastante o Churrasco e acampamento.








 Nesse dia iniciei minha remada às 8h e terminei às 16h. Nessas 8 horas fiz algumas paradas rápidas para me hidratar/ alimentar,orientar , fazer algumas fotos e mais alguns minutos para fazer a eclusagem.





No dia seguinte acordei mal ( problemas gastrointestinais). Eu tinha decidido ficar até o dia 8 com a turma , mas mudei de ideia nessa manhã. Achei que se ficasse eu desidrataria rápido e ficaria pior o retorno. Tomei um café feito pelo Cristian que em seguida fiquei sabendo que foi com água do arroio ( “bad Idea”). Ganhei alguns comprimidos de buscopan composto do Gerson que ajudou bastante.


 Fiz algumas fotos no nascer do sol que estava fantástico...








...desmontei a barraca, arrumei o equipamento, carreguei o caiaque e parti às 9h.
O Braga tentou me convencer a ficar, ele se mostrou preocupado com o meu retorno sozinho. Mas eu disse que ficaria bem e parti. 





O Waldo e o genro dele haviam partido  2 horas antes de mim. Logo na largada já comecei a sentir dores nas costas, cotovelos e dedos. Quando cheguei no canal são Gonçalo para meu desânimo tinha um vento contra muito forte, ondas , parecia a lagoa, estava feia a coisa. Remadas fortes que não rendiam nada, dores piorando, não sabia se conseguiria chegar em Pelotas de novo na minha situação. Atravessei o canal e parei do outro lado. Tomei antiinflamatórios, me alimentei melhor, peguei o mp3 coloquei um som e segui. Comecei a mudar meu estado mental, como a força do pensamento faz diferença, é incrível.  Próximo as 11h , chegando na ilha da brigadeira escuto barulho de motor , olho para trás e vejo um bote de pescador vindo na minha direção, pensei “se me oferecerem reboque eu aceito, na boa, esse contra-vento ta me castigando”. Passaram, acenaram e foram embora.  Resolvi parar na ilha da brigadeira, próximo a outro bote de pescador.  Tomei um suco , comi umas barras de cereais e ia continuar a remada quando o pescador muito gentil me ofereceu gelo. Aceitei na boa, estava tudo morno dentro da bolsa térmica. Conversei um pouco , agradeci e segui a remada. Estranhei como meus problemas gastrointestinais desapareceram, parecia que era só para sair do acampamento.  Próximo das 13h encontrei  os pescadores que passaram por mim , eles estavam assando um churrasco, me convidaram para almoçar com eles e tomar umas geladas. O Convite foi tentador , mas recusei  porque tinha muita água pela frente até a  Eclusa e o vento tinha dado uma trégua , tinha que aproveitar. 










Quando faltava poucos km’s até a Eclusa lá veio o vento de novo para castigar. Tentei remar rente a margem para me abrigar um pouco do vento mas não adiantou. Contra ele o caiaque simplesmente não avançava.  Primeira vez que tenho que bordejar com um caiaque como se estivesse em um veleiro. Fui “costurando” o canal para ir avançando até chegar na Eclusa. Lembrei do Amyr Klink : “ Não se pode discutir com o mal tempo”.  Cheguei na Eclusa perto das 16h junto com os velejadores. Tivemos que esperar 1h pois a Eclusa funcionava  as 17h.








 Dentro da eclusa olhei para cima e vi uma mulher com uma câmera, “Hey moça... moça.. pode fazer uma foto?  -- Ah ..sim ..sim --  Tem como enviar p/ meu e-mail? -  sim..qual  é? ... meu e-mail é .....  – Chollet ? como se escreve?  -- é ..c ..h .. o... qualquer coisa pesquisa no Google “ ( cara-de –pau  “mode on” nessa hora né ). To esperando minha foto ainda.  Na eclusa recebi instruções de só sair quando escutar 2 toques da sirene. Após o portão aberto, os 2 toques, comecei a sair, uma lancha do meu lado saiu na frente , e o veleiro que estava atrás da lancha desatracou e começou a avançar , derrepente um barco que aguardava para entrar na eclusa desatracou e começou a invadir nosso espaço. O veleiro para evitar o abalroamento desviou do barco e veio na minha direção, remei rapidamente de ré e saí da proa dele. Foi só um susto , mas poderia ter sido um acidente.  Segui lutando no contra-vento , sabia que tinha mais 1h e 30min aproximadamente de remada até o “quadrado”, no porto. Ao me aproximar da ponte Pel./RG fiz uma parada para curtir o por do sol que foi incrível.




"Sozinho? Não... só se fosse insensível suficiente para desprezar o sol, vento, ondas, aves, peixes..."






 No retorno, saí as 9h e cheguei as 19h.  Essa remada me fez muito bem, ignorando dores físicas que fazem parte do remador amador de final de semana , o isolamento,os 57km's, as mais de 12 horas de remada sozinho,  consegui colocar os pensamentos em ordem, aquietei o espírito e vi que é possível continuar mesmo quando a gente pensava que não dava mais.  
A presença dos velejadores me inspirou a voltar a velejar. Quero colocar a Ipanema na água o mais rápido possível. 



 ( Ponte Pel/RG vista do quadrado - Fiz essa foto enquanto aguardava minha carona para retornar para casa).


Agradeço os amigos Rovani, Waldo e Vinicius que apoiaram minha remada. E também a parceria dos amigos: Braga,Joel, Cristian, Márcio,Leandro, Junior, Gerson, Bruno e Waldo no acampamento.
Abraços!   




Mais Fotos: 
https://picasaweb.google.com/Anderson.Chollet/ExpedicaoEmSolitarioAteOArroioPavao?feat=directlink

Confraria Caiacar:
http://www.confrariacaiacar.blogspot.com/