“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”
segunda-feira, 30 de maio de 2016
segunda-feira, 9 de maio de 2016
Navega comigo morena!
Navega comigo morena!
Navega no meu barco, no meu beijo, no meu corpo, na minha história, na minha vida.
Vem novamente ver o sol beijar o horizonte e a lua iluminar a nossa noite;
O nosso calor duelar com o frescor da madrugada enquanto abraçados no convés desejamos que o tempo passe mais lentamente.
Soltar amarras que nos prendem a passados pesados e viver o presente leve como as velas que enfunam em suave brisa.
Vem comigo morena unir forças, desejos e sabedorias no manejo do leme da vida buscando nos equilibrar como no barco em orça trabalhamos o adernamento com o contrapeso.
Trimar nossa sintonia como o regatista dedicado trima constantemente o velame da embarcação em busca de harmonia e seguimento.
Levar nossos corações aos estaleiros da alma e construirmos o amor.
Continue assim ao meu lado morena, pois tu és vento que preciso em minhas calmarias e calmarias que procuro em minhas tempestades.
Cmte. Anderson Chollet.
"...Viste companheiros queridos, internados em labirintos de sombra, assestando baterias contra a lógica, a te depreciarem o culto à sinceridade e trazes, por isso, o coração arpoado por doloroso desencanto...
Sofreste perdas consideráveis e guardas o espírito, à feição de barco à deriva...
Distorceste o raciocínio, sob o efeito de palavras loucas, desfechadas no ambiente em que vives e cambaleias, qual se tivesses o ânimo ferroado por dardos de fogo e fel...
À vista disso, se desatinos dessa ou daquela procedência te visitam a alma, entra em ti mesmo e acende a luz da prece, reexaminando atitudes e reconsiderando problemas, entendendo que a renovação somente será verdadeira renovação para o bem, não à custa de compressões exteriores, mas se projetarmos ao tear da vida o fio do próprio pensamento, intimamente reajustado e emendado por nós." (Emmanuel)
"...Rimas de ventos e velas
Vida que vem e que vai
A solidão que fica e entra
Me arremessando
Contra o cais..."
https://www.youtube.com/watch?v=J1X6lVPlwu0
Iniciação à Canoagem - Arroio Pelotas
Ela me observava preparando o caiaque ; um oceânico duplo de nome Marajó. De proa à popa eu ia carregando os compartimentos estanques e o convés com equipamentos e suprimentos para passarmos o dia na água. Ajudei-lhe a vestir o colete flutuador, fazendo ajustes enquanto pensava na importância daquela vida que confiava sua segurança à mim. Apoiei-lhe no embarque seco e seguro ao lado de um trapiche. Com as mãos direcionei a proa ao meio do arroio e pude sentir sua ansiedade em navegar. Após embarcar no cockpit de popa dei a primeira puxada na água com o remo, quebrando a inércia , projetando o caiaque a vante e observando o entusiasmo da amiga Rosana com o deslizar suave sobre aquela lâmina d'água, animada tal qual uma criança em seu primeiro banho de chuva, me fez ganhar o dia em poucos segundos de encantamento. Com sorrisos largos e remadas firmes seguimos arroio abaixo...
— com Rosana Ávila Pereira.
Cmte. Anderson Chollet
O Pequeno Tortuga
O pequeno Tortuga seguia aproado a oeste, retornando à Pelotas. O sol já havia desaparecido na linha do horizonte, o vento soprava mais forte e a temperatura caía lentamente enquanto eu vestia um anorak. Mão firme no leme e olhar atento que alternava entre o horizonte,velas enfunadas, bússola e gps. Luz acesa na cabine de onde vinha um aroma especial do café que o amigo Rovani passava, trazendo conforto e aconchego. Meu afilhado Tiago dormia tranquilo na cama de proa e sua mãe, minha prima Tatiane,um pouco apreensiva com sua primeira travessia noturna me acompanhava no convés. Pouco tempo depois a escuridão já havia tomado conta exibindo um belíssimo céu estrelado que nos convidava à contemplação. O Rovani deixou a cabine, foi até a proa e sentou junto ao púlpito para vigiar o horizonte. Em seguida ele gritou: "Paliteiro à frente!".. liguei o farol de mão e varri o horizonte revelando muitos paus fixados por pescadores. Um deles passou como um vulto à bombordo. Desviei dos demais e seguimos rumo ao canal onde navegaríamos em águas mais profundas e livres de obstáculos com exceção das boias cegas. Após os pequenos sustos ,eu e o Rovani conversávamos sobre a possibilidade de futuramente navegarmos no oceano. Sonhávamos acordados enquanto a Tatiane escutava nossos planos e devaneios interrompendo-nos em dado momento, assustada com nossa determinação em executá-los ela disparou: "eu to no meio de dois loucos". Sorriso no rosto e a certeza de que estamos no caminho certo.
Cmte. Anderson Chollet.
São José do Norte - Ponta Rasa
Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara."
Eduardo Galeano
Navegando em solitário eu canto, grito, choro, falo com o barco e comigo mesmo, rio dos meus tropeços, silencio, reflito, me conheço mais, me surpreendo, me liberto de amarras, me dispo das roupas e das aflições, absorvo a paisagem, sinto a natureza no corpo e na alma, me restabeleço e me sinto mais livre porque ouso ser eu mesmo. Essa solidão é uma das poucas que vale a pena...
Cmte. Anderson Chollet.
Um dia cinzento em Pelotas - O plano era ir sozinho fazer uma rápida manutenção no barco e retornar em seguida para casa. Pedi algumas ferramentas emprestadas ao Rovani que prontamente se ofereceu para me ajudar. Na marina eu e o Rovani trabalhávamos no barco enquanto a Tatiane e o Tiago pescavam na beira do arroio. Após conclusão do trabalho o Rovani me flagrou parado no convés hipnotizado olhando para a água e disse: - Tu tá louco pra navegar né? Rapidamente disparei: - "Vamos???" Em poucos minutos todos estavam a bordo, sem planos de navegação e com poucos suprimentos soltamos amarras e deixamos a marina. Seguimos pelo Arroio Pelotas, Canal São Gonçalo e enfim lagoa dos Patos. Chovia lá fora, mas a bordo fazia sol. Mentes e corações tranquilos após o embarque como se as perturbações e dissabores ficassem em terra. No cockpit com roupas quentes e impermeáveis navegamos com o adorável som da chuva na lona, convés e água. Uma leve e agradável sonolência surgia com esse conforto. Calmaria na lagoa onde pequeninas marolas provocavam um suave e quase imperceptível balanço de proa à popa. Dessa vez não tínhamos o cheiroso e saboroso café passado, mas decidimos retornar ao canal São Gonçalo e aportar na barra onde compramos deliciosos pastéis. De volta ao Tortuga seguimos subindo o canal retornando à marina. A chuva ficou mais forte no fim de tarde molhando bastante o cockpit. Rovani, Tatiane e Tiago estavam secos e aquecidos na pequena cabine e brincavam como se estivessem fazendo um charter (aluguel de veleiro) com Skipper (Timoneiro; comandante.) Chegamos na marina ao anoitecer e a vontade era de continuarmos no barco. Cresce em mim o desejo de morar em um veleiro. Oque há alguns anos parecia muito fora da realidade hoje começa a se tornar mais plausível. Não no meu pequeno e valente 17 pés, mas até chegar à embarcação adequada muitas milhas o Tortuga vai navegar.
Cmte. Anderson Chollet
Tripulante mirim
Retornávamos da Lagoa dos Patos , ingressando no canal São Gonçalo e o tripulante mirim exibia seu melhor sorriso em sua primeira navegada. Com a ausência de vento seguíamos canal acima à motor. Belas formações de nuvens com camadas cinzentas e azuladas indicavam que o melhor estava por vir. Logo mais, ao anoitecer, ele festejou com entusiasmo contagiante a chegada da chuva gerando grande contentamento em mim que acabara de desligar o motor para apreciar o momento. Cmte. Anderson Chollet
Trekking
"... No matter how bad things go, my heart and my mind will carry my body when my limbs are too weak..." ( Coach Flowers)
Foto: Cristiano Castro
Barco à vela
Aqui na terra, a vida e aglomeração; lá fora, sobre as águas, está a liberdade. Aqui, o mundo nos acompanha demasiadamente, lá fora estamos sozinhos. Uma milha longe e nos encontramos num mundo exclusivo para nós, e que mundo ! Um mundo de águas, vento e céus. Um mundo de inesgotável e poética beleza. Um mundo lunático e caprichoso talvez, porém sempre nobre e cavalheiro; às vezes terrível, às vezes bondoso, triste a alguns, alegre a outros. Algumas vezes deprimente, ameaçador, louco e perigoso, porém sempre dando novamente a face, jogando a partida com as cartas a descoberto. Este mundo das águas não se pode encontrar à bordo de uma embarcação a motor. O motor leva consigo parte da costa e da trepidante terra. Um barco a motor ronca como o estridente barulho de uma cidade, vibrando ao compasso de uma era mecanizada; e o que é pior, se perde a emoção do jogo como quando se usa dados falsos. Não. O mundo das águas não se pode descobrir com um motor, mas sim com uma vela, pois aquele mundo de águas e céu, ventos e ondas não está somente ao nosso redor, senão que forma parte de nós mesmos. Se te combate também te estimula, és tu o motor, tanto como tua própria resistência, à salvaguarda ao mesmo tempo de teu inimigo. Das coisas construídas pelo homem nem uma é tão atrativa como um barco á vela, É algo vivo com alma e sentimentos próprios, obediente como um cavalo de sela, leal como um cão. Cada barco à vela tem um caráter individual, nenhum construtor conseguiu fazer duas embarcações exatamente iguais, as medidas podem serem as mesmas, a diferença está no temperamento. Os veleiros são ajuizados, demonstram uma profunda sagacidade tirada do vento e das ondas e transferem esta sagacidade a um timoneiro atento e cuidadoso. Sim, são ajuizados, porém se és mesquinho ou vil, covarde ou descuidado, soberbo ou cruel, podes estar seguro que tua embarcação o descobrirá. Quando em apuros na tempestade ou na adversidade, nenhum barco deixará de fazer o máximo esforço quanto lhe peça seu patrão. Talvez seja um esforço de pobres resultados, por ser um barco velho, podre e fazendo água como uma cachoeira. Porém sempre, até que suas desvantagens sejam demasiadas, entrará galhardamente na batalha. Ganhará se possível, senão morrerá lutando. Manejar esta gloriosa criação humana, ser seu dono e seu amigo, internar-se com ela no lindo e caprichoso reino do mar é a mais nobre e compensadora das artes. Porque dá mais do que se pode adquirir com dinheiro: humildade e confiança em si mesmo, valentia e bondade, força e delicadeza . Este é o presente ao navegante. O canhonaço que anuncia sua vitória quando cruza em primeiro lugar a linha de chegada de uma empenhada regata, soa como música divina. O doce calor de seu interior, a uma milha a dentro do mar frio e cinzento é o mais confortável dos lugares. Mar afora, quando estamos em nosso ambiente, sozinhos com nosso barco e com as estrelas, as preocupações da vida e da costa se reduzem rapidamente às proporções verdadeiras. O desporte do navegante nunca termina, tanto desfrutam os velhos como os jovens tanto é agradável no inverno como no verão, pois o frio ou o calor não opõe barreira alguma aos seus planos. Nunca se acaba de aprender, aos que viverem mil anos não poderiam conhecê-lo todo. A Arte da navegação à vela é tão antiga como a humanidade e tão nova como os caminhos da Lua.
H. A. Calahann - 1930
Assinar:
Postagens (Atom)