Dia 19-11 , sábado a noite eu preparava o Ipanema para mais uma velejada, desta vez com o amigo Braga. Decidi colocar garrafas Pet no interior do barco, entre o casco e o convés para garantir uma boa reserva de flutuabilidade em caso de ruptura do casco e alagamento, evitando que a embarcação afunde. Coloquei 20 garrafas Pet de 3,3 litros cada através das tampas de inspeção, acomodando 10 de cada lado do barco e fixando elas com fita adesiva silver tape. Durante o dia eu fui pressurizando as garrafas , colocando elas abertas no freezer e fechando antes de retirá-las para a temperatura ambiente. No centro do barco ja haviam alguns espaguetes flutuadores de polietileno colocados anteriormente com o objetivo de deixar mais firme o convés, assim deformando menos com o nosso peso. Não sei o quanto eficiente é esse sistema , mas vou pesquisar melhor sobre o assunto e caso necessário colocarei mais garrafas para garantir que o barco fique insubmergível.
Mais tarde com a ajuda do Rovani, coloquei o Ipanema em cima do carro para no domingo levá-lo até a prowind, na praia do Laranjal, nosso ponto de partida. No sábado o vento nordeste estava de moderado a forte , com rajadas chegando a 29 nós. A previsão era de que ele acalmaria um pouco no domingo.
Domingo pela manhã , a previsão estava se confirmando e tudo indicava uma ótima velejada. Eu o Braga chegamos antes das 10h e começamos a montar o veleiro e preparar os equipamentos sem pressa , com bastante paciência. Em seguida o Rovani , minha prima Tatiane , afilhado Tiago e amigo Nino chegaram na praia para assistir nossa saída.
(Foto by Emerson Amaral - "Nino")
(Foto by Emerson Amaral- "Nino")
Eu estava um pouco ansioso e até inseguro, provavelmente por ainda ter pouca experiência na arte de velejar e por ter intervalos de tempo relativamente grandes entre uma velejada e outra. Isso aliado a alguns comentários e questionamentos em tom de preocupação, como :" vais encarar esse vento?", de alguns amigos mais experientes, o que me deixava um tanto inquieto. Com tudo pronto, embarcamos e partimos perto do meio dia, com vento de través em direção à barra. Pouco tempo velejando, e aquela ansiedade e insegurança se foram embora deixando a velejada bem mais agradável e relaxante.
Rovani e família seguiram de carro pela beira da praia até a barra onde pararam para ver nossa entrada no canal São Gonçalo. Conversando com o Braga , me distrai e passei um pouco da entrada do canal , mas isso foi bom pois tivemos que orçar, cambando em seguida para retornar em direção ao canal , o que serviu de treinamento para sincronizarmos os movimentos e procedimentos durante as cambadas, manobra que teríamos que fazer o tempo todo retornando no contra-vento mais tarde. Fui de timoneiro e o Braga de proeiro e logo no início eu ja sabia que daria tudo certo em função da nossa paciência e respeito mútuo.
Entramos no canal São Gonçalo com vento variando de popa rasa a três quartos de popa e seguimos em uma velejada muito tranquila passando pela barra, entrada do arroio Pelotas, Veleiros Saldanha da Gama, UFpel Campus porto , Clube de Regatas Pelotense, Porto , Clube Náutico Gaúcho e até o Quadrado.
Veleiros Saldanha da Gama
UFPel Campus Porto
Porto
No caminho passamos por algumas embarcações a motor e por um veleiro oceânico que vindo em nossa direção me deixou em dúvida sobre questões de direito de passagem, se ele estive exatamente no nosso caminho quem deveria manobrar para evitar a colisão. Mantive nosso rumo e passamos a uma distância segura um do outro. Prometi que mais tarde iria revisar essas questões em casa, que eu ja havia estudado a algum tempo , mas por não praticar havia esquecido. Seguimos rumo ao quadrado em uma velejada tranquila. Em alguns momentos eu ficava em pé , com a mão esquerda segurando a escota da vela mestra e a direita a extensão da cana do leme. Nos aproximando do quadrado e ponte Pelotas / Rio Grande vimos que a ponte férrea estava sendo levantada. Provavelmente viram nossa aproximação e pensaram que seguiríamos canal acima. Braga testando um radio VHF portátil que ele adquiriu recentemente , tentou contato com o administrador da ponte, mas sem resposta. Passamos próximo ao quadrado para ver se encontrávamos algum conhecido , após um Jibe tranquilo com vento de fraco a moderado, onde o Braga seguindo minha orientação controlou a passagem da retranca para o outro bordo, seguimos de través para o outro lado do canal , onde fizemos nossa parada para lanchar. Contente com o sucesso das manobras eu cumprimentei e agradeci o Braga. Aportamos em uma pequena prainha, com areia fofa e vegetação na volta, onde estavam três pescadores fazendo manutenção no barco deles.
Conversamos um pouco com eles , o Braga deu algumas dicas de manutenção , trocamos contato ( telefone) para combinar futuras remadas com um dos pescadores que tem gosto pela canoagem, relaxamos um pouco no local , reacomodamos os equipamentos na proa do Ipanema para deixar o convés livre de obstáculos para as cambadas no contra-vento e partimos rumo a Prowind, na Lagoa dos Patos novamente. Saímos no contra-vento como previsto e começamos a bordejar ( Velejar em Zig-Zag para avançar contra o vento). Alguns bordos rendiam mais , outros menos, algumas vezes eu perdia o ângulo de orça, fechando de mais, entrando na "zona morta" , perdendo um pouco de desempenho , mas recuperando em seguida arribando um pouco. Passamos por algumas lanchas que vinham no sentido contrário em alta velocidade , algumas desaceleravam antes de manobrar e outras simplesmente desviavam. Enquanto cruzávamos o canal em um dos bordos uma lancha grande que vinha muito rápido em nossa direção me chamou a atenção, eles mantinham o rumo sem diminuir a velocidade ou mostrar qualquer intenção de alterar o rumo, comentei com o Braga:" Ou não estão nos vendo , ou não sabem que embarcações a vela tem direito de passagem". Estavam realmente em alta velocidade , pedi que o braga utilizasse a buzina como alerta , ele buzinou mas foi inútil, estavam próximos e em rota de colisão. Avisei o Braga: "Preparar para cambar agora!!, cambando!!!", empurrei o leme em direção as velas, nos posicionamos no centro do barco enquanto a proa cruzava a linha vento e a retranca mudava de bordo , Braga soltou a escota da genoa, nos posicionamos novamente a barlavento , Braga caçou novamente a Genoa, aliviei um pouco mais a Mestra e nos afastamos dali em orça folgada. A Lancha passou próximo e muito rápido. O Braga buzinou novamente , fiz sinal negativando a atitude do comandante da lancha que acenou pensando provavelmente que estávamos apenas cumprimentando. Se mantivéssemos o rumo o abalroamento era certo. Seguimos nossa velejada sem maiores problemas e em um dos bordos o Braga me avisou que próximo a margem do canal podia ser raso de mais, ele acabou de falar , poucos segundos antes de eu manobrar , a bolina raspou no fundo nos desacelerando , pedi que ele elevasse um pouco ela rapidamente e tentei cambar , sem sucesso porque com a desaceleração ficamos sem velocidade suficiente para a manobra e o vento acabou nos empurrando para cima dos juncos, na margem. Decidimos descansar um pouco antes de tentar sair dali. Em seguida fui até a proa , abri uma das tampas de inspeção e peguei dois remos. Tiramos a bolina fora e remamos forte para nos afastar dos juncos, mas sem sucesso. Baixamos as velas e tentamos novamente. Após bastante esforço físico o máximo que conseguimos foi virar a popa para a linha do vento.Icei a vela mestra e utilizei a bolina para empurrar os juncos com bastante força , nos afastando menos de 1m da vegetação , que com a vela aberta foi suficiente para avançar um pouco e utilizar o leme para se afastar da margem. O Braga içou novamente a Genoa, seguimos um pouco com vento em popa, comecei a orçar , cambamos novamente e voltamos a velejar rumo a Lagoa dos Patos. Após algumas horas velejando, me senti um pouco cansado com o esforço para tirar o ipanema daquela situação. Tomei um suco de Pêssego, me reidratando, elevando o nível de glicose no sangue e me sentindo mais disposto. Final de tarde , sol se pondo e nós nos aproximando da barra. Entramos aproximadamente 0,5 km na lagoa dos Patos , cambamos e seguimos orçando em direção ao trapiche do laranjal. Estava anoitecendo rápido , avisei o braga que tinha uma lanterna de longo alcance no pote estanque. De repente o cabo que mantém o leme abaixado rebentou e o leme levantou , ficando bastante pesado e difícil de manobrar. Segui forçando o leme para manter o rumo. Quando estávamos mais próximos do trapiche o Braga avistou uma rede de pesca. Pedi que ele levantasse a bolina , o leme ja estava levantado então passamos por cima da rede sem maiores problemas. Forcei o leme para rumar em direção a praia com vento de través e assim seguimos até aportar ao lado do trapiche. Velejamos em pouco mais de 6 horas, 44,7 km's. Esse velejo foi bastante prazeroso e serviu para aumentar nossa experiência prática e autoconfiança.
(Foto By Braga)
Veja nosso GPS Tracking na imagem abaixo:
(Clique na imagem para ampliar)
Na madrugada de terça-feira , lembrando de vários momentos da nossa velejada , comecei a descrever com um certo tom poético, devido a inspiração da hora , alguns momentos segundo minha visão ,que mostram um pouco do prazer de velejar . Segue abaixo o pequeno texto:
Embarquei ansioso, prestes a
timonear um veleiro com dúvidas de quem tem pouca experiência. Tentando
esconder do meu amigo proeiro um pouco da minha insegurança, dava instruções e
fazia manobras de forma mais lenta e tranqüila possível. Com o passar do tempo , a minha segurança foi aumentando , fui ficando mais
confiante e as rajadas de vento mais fortes já não me assustavam mais. Eu as
desejava, queria vento, mais "combustível" para avançar mais rápido,
orçava e arribava conforme o adernamento e aliviava a escota da mestra nos
momentos mais críticos vendo as velas quase tocarem na água. Observava o comportamento e expressão do meu amigo Braga, que como proeiro ja estava bem mais seguro do que na partida e demonstrava confiar no meu julgamento e habilidade em timonear o Ipanema nos levando de volta para a casa.
Planando, o pequeno veleiro saltava nas ondas e eu gritava entusiasmado. Olhava para a popa observando o trabalho do leme e o
rastro deixado na água, em seguida observava a espuma a sotavento, seguia os
olhos em direção à proa e após a barlavento sentindo o vento refrescante no
rosto. Fechava brevemente os olhos, abdicando momentaneamente da visão, mas aumentando
a sensibilidade ao toque dos pequenos respingos de água e até as enxurradas que
adentravam o barco pela proa. A água corria pelo convés acompanhando o
movimento do barco, passando pelos meus pés descalços e me fazendo sentir um
leve arrepio frio em um início de noite na nossa bela lagoa dos patos. Nesse
momento um leve sorriso no meu rosto não era suficiente para revelar o quanto
eu estava apreciando aquele velejo, após dominar o barco e senti-lo como uma
extensão do meu corpo.
Anderson Chollet.
Agradeço meu amigo Braga pela paciência, confiança e parceria nessa velejada. O Rovani, grande amigo que está sempre no apoio.Deixo aqui também meu agradecimento a minha prima Tatiane, afilhado Tiago e amigo Emerson que assistiram nossa saída. Ao pessoal da Prowind que facilitam o acesso aos esportes náuticos , seja no apoio, guarderia ou cursos.
Grande abraço a todos , bons ventos e até a próxima.
Anderson . . .
ResponderExcluirque lindo teu Blog,show!!!
Já sou seguidora,visto que sempre vai
existir grandes acontecimentos para se
ler e fotos magnificas,rsrsrs.
Beijos na Alma!!!Da amiga de sempre.
E pelo amor de Deus,vai devagar e sempre,
mais calma com a adrenalina controlada,ok!!!
Obrigado Laura! Comentários assim me motivam a manter o blog atualizado e a ir em busca de novas aventuras. Pode deixar , vou com calma sim e sempre pensando em questões de segurança para que eu possa fazer o relato depois e que tenha final feliz. Beijos!
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