Já faz alguns meses que não atualizo o Blog, por estar ocupado com outras funções vou deixando sempre para mais tarde e acabo não atualizando. Antes tarde do que nunca , não poderia deixar de postar sobre a velejada de 3 dias ( de 18 a 20 de setembro) na lagoa dos Patos, de Pelotas a São Lourenço do Sul que fiz com o amigo Alberto Blank.
O plano inicial era de a turma ( Confraria Caiacar) navegar até São Lourenço do Sul em uma embarcação a motor levando os caiaques para depois retornar remando até Pelotas. Fui convidado para participar da remada mas por questões de preparo físico ( falta dele) achei melhor ir velejando. Convidei o Alberto , velejador experiente, para me acompanhar nessa curtida. Ele topou e em seguida começamos a nos organizar.
Fazia bastante tempo que eu não colocava meu pequeno veleiro, Hermes ( Ipanema 13) na água. Na velejada anterior o barco teve algumas quebras, algumas eu consertei em casa , mas não havia testado ainda. Convidei o Alberto para dar uma verificada no veleiro, ferragens e equipamentos em geral. Montamos o veleiro, o Alberto me deu algumas dicas de equipamentos, manutenção e mais tarde ele produziu em casa uma tala para a vela que eu havia perdido na ultima velejada e também um pau de spinnaker para armar as velas em "Asa de Pombo" no vento em popa.Além de me emprestar um moitão com mordedor que usamos na escota da vela mestra. Alguns dias depois o amigo Braga me ajudou a raspar parte do convés que estava soltando o gel coat e colar EVA com cola de contato. O acabamento ficou bonito e ganhamos em conforto também.
(Na foto acima ainda faltava dar acabamento no EVA com estilete)
Nos dias seguintes continuei fazendo a manutenção do barco com a ajuda do Emerson ( Nino) e Rovani.
Se aproximando do dia 18, a previsão do tempo não era boa para os canoístas,tempo instável e com um vento sul que faria com que remassem todo tempo contra ele. A confraria caiacar acabou abortando a viagem, o que foi perfeitamente compreensível. Eu e o Alberto continuamos decididos a ir velejando mesmo com chuva e tempo instável. Na véspera da nossa saída eu estava um tanto debilitado, após dias com problemas gastrointestinais, mas estava decidido a ir mesmo assim. Na manhã de domingo, acordei com a pressão arterial baixa, bastante tonto e com náuseas , mal conseguia parar em pé. Liguei para o Alberto e falei da minha situação, e antes que eu fizesse a proposta de ele partir sozinho , ele falou que enviasse o veleiro pelo Rovani ( nosso apoio em terra ) que ele iria mesmo assim. Liguei para o Rovani e pedi que levasse o veleiro para o Alberto. Enquanto o Rovani não chegava na minha casa para pegar o veleiro eu tentava melhorar meu estado de saúde a qualquer custo. Poucos minutos depois ,minha pressão aumentou um pouco , aliviando a tontura e náusea. Quando o Rovani chegou entrei no carro e parti junto. Minha mãe vendo meu estado ficou preocupada, o que é compreensível , eu também ficaria no lugar dela.
Chegamos na prowind e começamos a montar o veleiro rapidamente. Momentos antes da partida lembrei que não tinha pego papel higiênico, foram semanas me organizando e esqueci de algo tão básico e útil ainda mais na minha situação , esquecer papel higiênico era quase como Amyr esquecer fogo quando estava indo para a Antártida. Entre risos e piadas do pessoal que estava na volta fui até a prowind e peguei um rolo emprestado.
Fizemos algumas fotos , nos despedimos do pessoal e partimos.
Saímos com vento em popa rumo à ponta da Ilha da Feitoria. Alberto timoneando e eu de proeiro. Armei a Asa de Pombo com o pau de spinnaker que o Alberto fez.
Alberto
Anderson
O Gps, um Garmin 60Cx do Alberto, mostrava nosso rumo com precisão, além de outras informações importantes como posição atual, velocidade e tempo estimado de chegada. Foi meu primeiro contato com um Gps, fiquei impressionado com a precisão e tempo de resposta.
Poucas horas velejando empopado , com o barco "dançando" nas ondas, balançando de um lado para outro , não demorou muito para que eu começasse a ficar enjoado. Primeira vez que fico enjoado na água ( "mal do mar"). Assumi uma posição mais confortável , tentando diminuir a náusea. Fechava os olhos e o enjoo ficava mais forte. Seguindo dica do Alberto olhava para o horizonte e aliviava um pouco.
Quando faltava aproximadamente 1 hora para chegar na ilha, o tempo abriu , aparecendo o sol e deixando o cenário mais bonito. Chegamos na ilha próximo ao meio dia , não lembro exatamente o horário. Desembarcamos, tomei um Dramin B6 e um pouco de água mineral com gás. Em seguida lanchamos. Fizemos algumas fotos e voltamos a velejar.
Ilha da Feitoria
Deixamos a ilha da feitoria e partimos rumo ao arroio Corrientes , local do nosso primeiro acampamento.
Meu enjoo passou , eu estava me sentindo mais disposto , aproveitando melhor a tranquila velejada.
À tarde chegamos no arroio Corrientes. O cenário mudou , entramos velejando lentamente naquelas águas calmas, com uma bela vegetação ao redor e animais nos observando. Seguimos arroio a dentro à procura de um bom local para acampar.
Escolhido o local , descarregamos o veleiro e montamos o acampamento.
Juntamos uns gravetos para fazer fogo , mas sem sucesso pois estavam bastante úmidos.
Partimos para a espiriteira a álcool. Cozinhamos macarrão instantâneo ( miojo) , um pouco de queijo ralado por cima ,uns bifes de porco que sobraram do almoço e estava pronta a janta. O Alberto me apresentou as frutas secas que ele leva nas aventuras. Saborosas , nutritivas e de longo prazo de validade, uma ótima opção de alimento para expedições.
Durante a noite choveu um pouco e mesmo com lona cobrindo as barracas a umidade passava para o interior.
Ao amanhecer, o tempo continuava instável mas sem chuva. Tomamos café, fizemos algumas fotos e começamos a levantar acampamento sem pressa.
Partimos rumo a lagoa dos Patos para seguir a velejada até o arroio Grande. A saída do arroio corrientes foi um pouco bordejando no contra-vento e um pouco remando nos trechos mais estreitos. Nesse trecho percebi que estávamos bem sincronizados nas tarefas atribuídas a cada um , timoneiro e proeiro. Velejar mesmo em um pequeno veleiro de 13 pés , também é um trabalho em equipe.
De volta a lagoa dos patos, continuamos em uma velejada tranquila,empopados, com uma média de 4,5 nós aproximadamente até o arroio grande.
Entrando no arroio grande me surpreendi com a beleza do local, mesmo com o tempo fechado, com bastante nebulozidade, imagino em um dia ensolarado de verão. O Alberto já conhecia o arroio Grande e apesar de nenhuma novidade, ele também apreciou bastante a beleza do local.
Montamos o segundo acampamento embaixo dessa bela figueira.
Enquanto o Alberto montava a barraca e organizava as coisas dele , dei uma caminhada na região , apreciando as belezas naturais e a sensação de paz que o local proporciona. Quando retornei estava começando a chover. Montei rapidamente minha barraca e estendi minha lona sobre as 2 barracas deixando uma aba como abrigo da chuva.
Acampamento montado , abrigados da chuva , tentamos fazer fogo mas sem sucesso como no primeiro acampamento. No outro lado do arroio tinha alguns pescadores acampados , parece que eles não conseguiram fazer uma fogueira também. Partimos novamente para a espiriteira a álcool, dessa vez o Alberto iniciou preparando pipoca, depois um arroz parboilizado com queijo ralado e atum para acompanhar, ainda comemos Bis e barras de cereais. É engraçado como alimentos simples ficam tão especiais em um acampamento longe de casa.
(Pequeno vídeo feito na noite de segunda-feira, no 2º acampamento)
Enquanto jantávamos avistei um quati atravessando a mata em direção ao arroio, avisei o Alberto que saiu atrás com a câmera em busca de um "bom clic". Avistamos ele retornando depois mas não foi possível fotografar.
Pouco tempo depois , na hora de dormir o Alberto passou mal , enjoou e decidiu por a janta para fora tentando melhorar mais rápido. Dei Xantinon B12 e Dramin B6 para ele que ficou bem em seguida.
Choveu a noite toda e durante a madrugada o vento ficou mais forte. Quando montamos o acampamento, enquanto eu arrumava minha coisas , cometi um erro esquecendo um saco com roupas secas fora do abrigo da chuva. Algumas roupas que eu usaria para dormir molharam. Entrei no saco de dormir com poucas roupas finas e secas que sobraram e logo senti bastante frio. Peguei um cobertor térmico de emergência , me enrolei nele e entrei novamente no saco de dormir. Consegui me manter aquecido e voltei a dormir. O som da chuva era agradável , o do vento nem tanto. Estava dormindo e de repente escuto um estrondo alto e contínuo se aproximando da barraca , "tam ,.tam ..tam .. tammmmmm" e senti uma leve vibração no chão. Nem me atrevi a sair do conforto do saco de dormir , na chuva , para ver o que era, somente abri uma fresta na barraca e com a lanterna olhei para a barraca do Alberto para ver se estava tudo ok. O barulho foi assustador, mas em seguida relaxei de novo e voltei a dormir. Na manhã de terça , me levantei antes das 7h , ainda com chuva, estava bastante frio, vesti a roupa impermeável e saí da barraca. Ao sair da barraca avistei um galho de tamanho respeitável que havia despencado da bela e velha figueira a aproximadamente 2m de nossas barracas. Estava ali o motivo do forte estrondo. Fiquei pensando no acidente se tivesse caído sobre as barracas. Na próxima vez vou pensar bem se acampo embaixo de uma figueira novamente.
A Alberto levantou logo depois de mim e tomamos café da manhã. Um pacote de biscoitos de coco, por descuido meu, foi infestado por formigas. Preciso ser mais organizado e disciplinado, essas pequenas coisas não deveriam acontecer, mas tudo bem , é tudo aprendizado.
Levantamos acampamento ,fizemos algumas fotos e próximo das 9h partimos rumo a Pelotas. A partir desse momento não tenho mais fotos porque minha bateria descarregou. O Alberto seguiu fazendo registros que podem ser vistos no blog dele: http://albertoblank.blogspot.com/ , além de fotos ele editou esse vídeo: http://www.vimeo.com/30022800 .
Não tínhamos tempo para velejar até São Lourenço do Sul e depois retornar velejando à Pelotas, então começamos o retorno a partir do arroio grande que fica no município de turuçu . Voltamos à lagoa dos patos , saindo do nosso abrigo nas águas calmas do arroio grande e logo percebemos que nosso retorno não seria fácil , o vento Sul estava mais forte do que no dia anterior , e desta vez encaramos ele contra. Saímos "a todo pano", vela mestra e genoa sem rizar, começamos a velejar rápido e bastante adernado. Eu e o Alberto usando bastante a alça de escora e forçando no contra-peso para evitar a capotagem. O pequeno Hermes saltava de uma onda e mergulhava a proa na próxima , vindo bastante água por cima da gente e a bordo. Em alguns momentos , adernados demais a água entrava pelo bordo oposto, à sotavento. O veleiro estava ficando alagado, instável e não conseguíamos tirá-la . Pedi que o Alberto aliviasse a escota da mestra , diminuindo a pressão e adernamento para tirar água. Esgotamos a água do barco , cambamos e seguimos em direção a praia. Apesar da situação um pouco perigosa , eu estava bastante empolgado com a adrenalina naquela velejada contra o vento. Na praia comentei com o Alberto que velejada daquele jeito eu só tinha visto em filmes. Ficamos um tempo na praia, verificamos equipamentos e tentamos contato com o pessoal da prowind através de celular para saber sobre a previsão dos ventos, mas sem sucesso pois não havia sinal. Pensamos um pouco sobre o que fazer e o Alberto sugeriu que retornássemos e seguíssemos em direção a São Lourenço do Sul com vento em popa. Aceitei a proposta com certo entusiasmo , pois afinal o nosso destino inicial era São Lourenço mesmo. Rizamos a vela mestra e enrolamos um pouco a genoa , reduzindo consideravelmente a área velica. Embarcamos e seguimos rumo a São Lourenço do sul com vento em popa. Nossa velocidade era boa mesmo com velas rizadas, chegou a atingir picos de pouco mais de 8 nós. Chegamos em São Lourenço logo após as 14h. Entramos no canal de acesso a cidade ( arroio São Lourenço) com todo cuidado por causa das pedras e chegamos tranquilos no Iate Clube São Lourenço do Sul. Fiquei cuidando do veleiro e fiz umas fotos com a câmera do Alberto enquanto ele tratava de registrar nossa entrada na secretaria do clube. Fomos bem recebidos pelo funcionário Paulinho que muito prestativo arranjou um carrinho para carregar o Hermes , inclusive nos ajudando a leva-lo para dentro do clube. O Alberto deu um pouco de um licor especial em uma garrafa para o Paulinho como forma de agradecimento. Liguei para o Rovani que estava em Pelotas e perguntei se ele poderia nos buscar. Rovani estava tranquilo em casa fazendo churrasco. Eu disse que não tinha pressa e que ele viesse a hora que ficasse melhor. Nos acomodamos no clube , pegamos a espiriteira ,preparamos miojo para o Almoço e comemos chocolate. Enquanto faziamos bagunça no clube, com equipamentos e comida espalhados ao redor do barco ,um senhor bastante simpático se aproximou e perguntou se precisávamos de alguma coisa. Dissemos que estava tudo bem enquanto ele olhava para nossa pequena embarcação. Um pouco surpreso ele questionou: "Vocês vieram de Pelotas nesse pequeno barco?" , em seguida seguiu..."no meu tempo de guri eu fazia dessas...." , falou um pouco das aventuras dele ,relatou um pouco do que ocorreu na violenta enxurrada que a pouco tempo causou grandes danos e morte na cidade e também nos tranquilizou quanto a guarderia do barco e equipamentos. Infelizmente não recordo do nome dele.
Após o almoço ,lavei a louça enquanto o Alberto arrumava os equipamentos. Em seguida chegou nosso apoio em terra, Rovani e o Nino com churrasco, refri e biscoitos. Como é bom ter amigos assim.
Rovani e nino nos ajudaram a tirar o mastro, emborcar o barco e guardar os equipamentos. Demos uma volta pelo clube olhando as outras embarcações , fizemos algumas fotos e partimos. Era cedo ainda, tinha bastante sol pela frente , decidimos fazer um tour pela cidade percorrendo as praias e volta do arroio. Ficamos impressionados, além da beleza da cidade tinha vários rastros de destruição deixados pela enxurrada. Depois do tour seguimos para Pelotas.
Essa velejada foi bastante marcante para mim. Foram 33,7 milhas náuticas ( pouco mais de 60 km's) navegadas nos ultimos dias de inverno, onde aprendi bastante com o Alberto, mudei alguns conceitos e adquiri mais confiança na arte de velejar. Como em outras aventuras , saí de casa com a saúde abalada , melhorei no caminho e retornei para casa mais saudável fisico e mentalmente. Deixo aqui meu agradecimento ao Alberto Blank pela parceria, aos amigos Rovani, Nino , Braga, pessoal da prowind ( Léo , Larry , João ....) e funcionário do Iate clube São Lourenço do sul pelo apoio.
Para mais imagens , informações, relato e detalhes da rota , visite o blog do Alberto:
http://albertoblank.blogspot.com/
Também não deixe de conferir o vídeo "Velejada dos 3 arroios" editado por ele:
http://www.vimeo.com/30022800
Forte abraço a todos , bons ventos e até a próxima!
Anderson Chollet.