“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

sábado, 12 de janeiro de 2013

Retornando...


Após alguns meses sem atualizar o site estou retomando aos poucos as atividades.

Em novembro de 2012 , para fechar o ano com uma atividade especial , participei de um Trekking de três dias na região do vale do Taquari e Serra Gaúcha com os amigos Cristiano Castro , Luane Mondin e Holand Rackbart. Foi uma atividade muito interessante onde produzimos um extenso material fotográfico que merece uma atenção mais especial e um relato completo que postarei assim que possível.

Nos últimos meses andei afastado das atividades esportivas por motivo de doença. Aproveitando a melhora da minha saúde, aceitei o convite do casal de amigos , Márcio e Cristina Pizarro , para navegar até São Lourenço do Sul , partindo no dia 3 de janeiro e com data provável de retorno no dia 5.  Também foram convidados os amigos Alberto Blank, Paulo Silveira  e Vinícius Maciel. O Alberto não pode ir pois estava , juntamente com o Léo da Prowind,se dirigindo ao extremo sul do país, prestando um importante apoio em terra ao grande Canoísta Luiz F. Buff, da SKB - Sea Kayak Brasil,  que está subindo a costa Brasileira de caiaque. 
Na noite anterior a nossa saída , dormi apenas uma hora devido a problemas não esperados (acidentes, passagem e espera em hospital e outros).
Quinta-feira ,dia 3 , pela manhã , próximo das 8h,  Rovani me acompanhou até a praia do Laranjal e me ajudou a preparar o Hermes para a velejada. Enquanto isso o Paulo levou até a colônia de pescadores Z-3 os Caiaques para o Marcio , Cristina e Vinícius partirem de lá. Ainda estávamos arrumando os equipamentos no barco quando o Paulo chegou no laranjal acompanhado da sua mulher e filha para partir comigo mas em seu veleiro Holder 12. 





 Próximo do meio dia entramos na água. Eu no Hermes ( ipanema 13) , Paulo e Gabrielle no Holder 12.  Enquanto arrumávamos os barcos o vento era terral ( soprando da terra para a água, entre Oes-sudoeste e sudoeste ), mas ele foi logo mudando de direção e quando colocamos os barcos na água ele estava soprando do leste. Já saímos orçando, aproando para a ilha da Feitoria. O vento era fraco ( Uma "brisa fraca" segundo Escala Beaufort) , entre 7 e 10 nós. Durante a velejada o vento seguiu rondando até Les - nordeste, e não conseguíamos mais aproar para a ilha da feitoria. Seguimos cambando. O desempenho estava bem abaixo do esperado. As horas estavam passando e ganhávamos pouca altura. Sabia que próximo das 16h o vento ficaria mais forte. O Holder do Paulo estava com bastante peso ( dois tripulantes mais equipamentos , alguns realmente pesados). Eu, sozinho no Hermes, estava consideravelmente mais leve, ainda tomava algumas medidas para melhorar o desempenho no vento fraco, como folgando mais a esteira e testa da vela, ganhando mais potência e também me posicionando mais à frente e em alguns momentos mais à sotavento , adernando um pouco mais, diminuindo a área molhada e também melhorando o formato das velas. Em pouco tempo eu tomava uma distância grande à frente do Paulo e Gabrielle, soltava a escota da mestra, deixava ela panejando, folgava a buja e esperava eles se aproximarem novamente. Aproveitava e fazia alguns testes, como navegar só com a vela de proa , lembrando da dica do amigo Alberto Blank de "levar a mestra à passeio", que pode ser útil em outros momentos , como de vento forte. Pouco antes da Z-3 , cambei , arribei e voltei no vento em popa , nos aproximamos em rumos opostos , passei brincando com eles: " Quanto tá o quilo do camarão?"- O humor estava bom , assim como o dia ensolarado. Mesmo progredindo lentamente e estar sonolento por ter dormido apenas uma hora, eu me sentia bem. 





Se aproximava das 16h e como o previsto o vento estava ficando mais forte. Na casa dos 16 nós já exigia mais atenção ao velejar. Junto com o vento forte sentíamos uma forte correnteza contra também. Não conseguíamos avançar em orça fechada e na orça folgada ganhávamos pouca altura. O vento continuava aumentando superando o previsto. Avistamos alguns barcos de pesca avançando no motor em direção a ilha da feitoria. O desempenho deles era baixíssimo também, mesmo indo em linha reta eles não ganhavam mais altura que eu que bordejava em orça folgada na frente deles. O vento contra e a correnteza estava "segurando" eles também. Constantemente eu olhava para o barco do Paulo para ver se estava tudo ok. As rajadas de vento mais forte já exigiam mais cuidados para não capotar o barco. Entre umas e outras meu barco adernava bastante me obrigando a orçar mais ,rapidamente ,e até aliviar a escota da mestra. Comecei a me preocupar mais com Paulo e Gabrielle. Somos todos iniciantes no mundo da vela, mas eles começaram mais recentemente. Eu ja havia tomado novamente uma distancia maior deles. Quando olho novamente para ver se estavam bem , não mais enxerguei a vela deles no horizonte. Já ia pegar o binóculos quando forcei um pouco mais a visão e enxerguei o barco virado. Meu corpo teve uma descarga de adrenalina na hora e bastante preocupado cambei , arribei em seguida e segui empopado ganhando velocidade e me aproximando rapidamente deles. Não conseguia ver movimento deles na água até que de repente a vela se ergue novamente no horizonte. Um sentimento de alívio na hora - Eles conseguiram! - Desviraram o holder. Eles já haviam feito essa manobra outras vezes ganhando uma experiência importante que preciso praticar no Hermes também. Antes que eu chegasse até eles meu celular tocou, era o Paulo avisando que estava tudo bem e que iriam para a Z-3 e que eu poderia seguir viagem tranquilo. Fiquei um tempo observando a aproximação deles a Z-3. Estávamos a poucos quilômetros da colônia de pescadores. Vi que estavam próximos a praia, voltei a orçar e investir em direção a ilha da feitoria. Eu ja me sentia bastante cansado ( uma noite praticamente sem dormir pesa depois nas atividades). Decidi ir para a praia , desembarcar um pouco , relaxar e pensar melhor no que fazer. Pensei em acampar no local de parada e tentar seguir no dia seguinte com ventos mais tranquilos. Enviei mensagem para o amigo Cristiano Castro , que no apoio em terra estava sabendo do plano de navegação e se atualizava da situação. Estava a poucos quilômetros da Z-3, podia ver algumas casas ao longe. Não era um local seguro para acampar. Entrei em contato com o amigo Larry, da Prowind, que sempre prestativo e disposto a ajudar , verificou a previsão atualizada dos ventos para o próximo dia. Sabendo que o vento ficaria ainda mais forte , rizei a vela principal, baixei a buja e tentei novamente avançar em direção a ilha da Feitoria em busca de um local mais seguro para passar a noite. Em pouco tempo a extensão da cana do leme quebrou e deu um estralo na junção da cana com a cabeça do leme ficando com uma folga. Já não era mais seguro avançar nessas condições. Um tanto frustrado arribei em direção a Prowind retornando empopado. Tentei entrar em contato com a turma que foi remando e nessa altura já se encontravam acampados próximo ao arroio Grande, mas sem sucesso. Paulo me viu ao longe passando de volta em frente a Z-3 e me ligou. Perguntando se eu havia abortado "missão" também, me atualizando da situação deles que estavam aguardando a apoio em terra buscá-los e perguntando se eu precisava de algo. Informei que tentaria seguir até o laranjal. Uma nuvem escura se aproximava, fechando o tempo. Coloquei o capacete para ter mais segurança e diminuir os riscos em um eventual jibe acidental. 







O vento que agora era uma "Brisa forte" , grau 5, entre 17 e 21 nós, segundo a Escala de Beaufort , me levava de volta em boa velocidade mesmo somente com a vela mestra rizada. Vinha surfando pequenas ondas que em alguns momentos adernavam o barco perigosamente e ao mesmo tempo garantiam a diversão. 
A minha animação na velejada rápida assim como outros momentos podem ser conferidos na compilação de fotos e vídeos clicando na foto abaixo: 


Vídeo: Enjoy yourself on a Sailboat

Não atingimos o objetivo que era velejar até São Lourenço do Sul , mas foi uma experiência interessante e válida , um dia de aprendizado bastante importante para nós e que fará diferença significativa nas próximas navegações. 

Deixo aqui meu agradecimento aos amigos canoístas Márcio Pizarro , Cristina Pizarro e Vinícius Maciel pelo convite de navegação e também parabenização pela grande remada , mesmo com adversidades ,se aproximando de São Lourenço do Sul e retornando a Pelotas. 
Aos amigos Paulo e Gabrielle pela parceria, paciência e confiança. Aos amigos Larry e Léo da Prowind que estão sempre dispostos a ajudar e apoiar os praticantes de atividades náuticas. Ao amigo Rovani que não mede esforços no apoio em terra, ajudando na guarderia do barco, manutenção, transporte , montagem e incentivo . Também ao amigo Cristiano Castro, veterano nas atividades de aventura, que no apoio em terra também passa bastante segurança pelo conhecimento e experiencia.

Grande Abraço a todos e até a próxima!

Anderson Chollet. 

4 comentários:

  1. Belo relato Anderson!

    Fico imensamente feliz em ver o amigo velejando em solo no Hermes!

    Valeu pela consideração e citação...

    Forte abraço e bons ventos!

    Alberto Blank

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  2. Obrigado mestre! Pode ter certeza que as experiências e conhecimento que compartilhasse comigo me deram mais segurança e condições para velejar em solo no Hermes!

    Valeu!

    Bons ventos!
    Forte Abraço!

    Anderson Chollet

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  3. Anderson.
    Muito bom te ver literalmente ampliando os horizontes, técnicos e físicos.

    Aproveito para deixar uma dica, algo que uso muito ao escalar e espero que possa ser aplicada em outros esportes.

    A prática é muito importante, é pra isso que investimos nossa vida no esporte, para praticar, para vivenciar. Mas a prática isoladamente, inevitavelmente irá te colocar em risco e possivelmente em encrencas. Para equilibrar as coisas, continue sempre investindo paralelamente na teoria, é ela quem irá te tirar da encrenca, controlar os riscos e te preparar para as próximas aventuras.
    Ambos praticamos esportes de risco calculado, esportes que podem envolver acidentes sérios com consequências graves e sabemos que a experiência é fator determinante no sucesso da atividade.
    Portanto...
    "Seja observador e prudente, e munido de ideais elevados, nobres princípios, conhecimento técnico e equipamento específico... não espere palavras..."

    Experiência, só tem quem faz!

    Abraço e obrigado pela consideração.

    Continuamos prontamente no apoio!

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    1. Cristiano,

      Certamente pode ser aplicado. Concordo contigo e percebo que ando em desiquilíbrio entre teoria e prática. Tenho buscado mais teoria pela facilidade de acesso a mesma. Mas como disse-se "ela que vai me tirar da encrenca", porque vou saber o que fazer na hora certa. No momento to precisando de um pouco mais de prática para consolidar a teoria e estar mais seguro na hora de aplicá-la.
      Sábias palavras meu caro.Vou lembrar.
      Muito obrigado pela assessoria e apoio que sempre me prestasse. Tu é importante referência para mim. Tens meu respeito e admiração. São palavras , mas são sinceras.

      Tens também meu apoio no que precisar!

      Grande Abraço.

      Anderson Chollet.

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