“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Um domingo cinzento

Algumas semanas antes do feriadão em que fez os dias mais frios dos últimos anos eu estava planejando e idealizando uma velejada mais longa na lagoa dos patos. Confesso que as previsões de temperaturas negativas aliadas a outros problemas me fizeram desistir. Não somente pensando no desconforto , mas principalmente em questões de segurança. 
Domingo, dia 10 de junho, a temperatura estava mais agradável , mas ainda frio. No início da tarde a nebulosidade no céu aumentava. Me sentindo um pouco ansioso e decepcionado por não ter navegado nos dias de folga , decidi pegar o caiaque e ir remar um pouco em busca de endorfina e bem estar. Me vesti superestimando o frio , sem maiores planejamentos peguei poucos equipamentos , uma garrafa de suco , três barras de cereais , algumas roupas quentes sobressalentes, lanterna , câmera e parti em direção a casa dos amigos Márcio e Cristina , nas marges do arroio Pelotas , de onde iniciei minha remada por volta das 15h.










 Não levei nem o kit primeiros socorros que está sempre presente nas navegadas. Ainda sentindo dores no pulso direito , lesionado em um atropelamento a algumas semanas atrás onde de bicicleta fui acertado por uma senhora que estava de carro e invadiu minha preferencial, pensava em fazer uma remada curta , de poucos minutos. Tomei anti-inflamatório em casa e quando comecei a remar sentia dores leves a cada remada. Com o tempo fui modificando a remada de forma a ficar mais confortável possível. Parti em direção ao canal São Gonçalo e fui esticando a remada que deveria ser curta. Ainda no arroio Pelotas , em uma remada tranquila , águas calmas , sem vento ,de repente surge uma lancha em alta velocidade vindo em minha direção enquanto eu cruzava o arroio. Remei mais forte saindo da rota de colisão e para minha surpresa a lancha foi manobrada novamente voltando a aproar em minha direção. Quando estava mais próximo uma das tripulantes me avistou e provavelmente avisou a timoneira que reduziu a velocidade e desviou. Não foi nada demais ,somente uma pequena injeção de adrenalina que me subiu a frequência cardíaca por alguns instantes. A tripulação , que pelo que pude perceber , era composta somente por mulheres , seguiu seu passeio em alta velocidade, enquanto eu em lentas remadas seguia em direção ao São Gonçalo. 



No canal São Gonçalo pensei em retornar, mas decidi continuar em direção ao pontal da Barra para dar uma olhada na lagoa dos patos. 

Curiosa marcação na entrada de um canal utilizando capacetes.


Cheguei na barra por volta das 17h

A lagoa tão calma quanto o arroio Pelotas. 
Passando um pouco a Barra fiz uma parada , relaxei um pouco , comi barras de cereais e em seguida comecei a remada de retorno. 


O celular ligado tocou , atendi e me arrependi. Problemas que eu não podia resolver à distância e que só me deixaram estressado e ansioso para chegar rápido. 

Anoitecendo cedo, antes das 18h com o céu bastante nublado já estava escuro. 
Peguei a lanterna de cabeça e deixei ela pronta para o uso. 




 Noite realmente escura , sem a luz da lua, calmaria inquietante e uma sensação estranha tomava conta de mim. Aumentei o ritmo da remada, a dor no pulso direito piorou e apareceu dores nos ombros também. A roupa impermeável impedia a água de entrar mas também impedia meu suor de sair. Comecei a sentir frio. 
Era uma remada para relaxar , mas eu já estava me questionando :" O que estou fazendo aqui?". 
Peguei o celular e liguei para o Márcio. A Cristina atendeu , avisei ela que estava bem e que demoraria um pouco mais para chegar. Sabia que podiam estar preocupados, afinal eu disse que seria uma remada bem curta , ali pela volta mesmo. 


Estava tão escuro que eu não enxergava nem a entrada do arroio Pelotas. No arroio era difícil saber para que lado fazia a curva.  









Cheguei ao ponto de partida por volta das 20h. Foram aproximadamente 25 km de remada em ritmo lento, em pouco menos de 5 horas. 

Coloquei os equipamentos no carro , conversei um pouco com o amigo Márcio e em seguida fui para casa. Apesar dos desconfortos a remada solo valeu a pena. Não saciou a vontade de fazer alguma aventura maior, mas reduziu a ansiedade e proporcionou aquela sensação de bem estar após exercícios físicos. Preciso vencer mais vezes a resistência a sair da "zona de conforto".